SAUDADE DO MARÇAL

        Em 1972 tive o privilégio e a rara felicidade de conhecer o advogado, criminalista, professor, poeta, músico, orador inflamado - algumas de suas facetas e exemplos de marcante personalidade - uma das grandes inteligências do século XX.
       Seu coração era generoso, magnânimo. Ajudava a todos, com prazer, presteza e profundo afeto. Não direi que fosse solitário, mas desesperava-se em momentos de melancolia, de nostálgico pensar.   
       Boêmio inveterado, apaixonado pelo viver e pela noite sombria (triste e melancólica noite de estrelas, doce e orvalhada noite!), esqueceu-se da saúde e partiu prematuramente. Deixando amarguras e amores, foi ao encontro do Amor Maior. Desligou-se do mundo para alcançar a bem-aventurança e a Eternidade.
       Tinha muitos grupos de amigos, e um desses grupos era assim formado: Ildeu, Leitinho, Robério e eu. Sempre dele nos lembramos, com um misto de mágoa e profundo sentimento, mágoa da partida e sentimento de recordações.
     Encontrávamos em seu sítio, quando revelava amplamente a sua face seresteira, de violonista, declamante de poemas, entoador das mais lindas canções.
        Lembramo-nos, a propósito, de Drummond: "Que cavaleiro andará por aí, na noite, sobraçando petições e estrofes, brigando com os ventos, defensor quixotesco do direito dos pobres? A um clarão reconheço-o". É Marçal, é o poeta, é o homem, é a saudade dele entre nós...

*ALFREDO CAMPOS PIMENTA

IJ ELETRONIC SHOEBOX

FUNDIÇÃO

Dinho Caninana com Omar Fontes Jr.
Letra: Marçal Arreguy
Música: Dinho Caninana.

DR. MARÇAL ETIENNE ARREGUY

O advogado e professor Marçal Etienne Arreguy graduou-se em Direito na turma de 1959 da UFMG, sendo formado em uma tradição preconizada por uma classe de eméritos professores - como Washington Albino, Alberto Deodato, Pedro Aleixo e Edgar da Mata-Machado, para citar apenas alguns exemplos - que valorizava a ciência jurídica segundo padrões de caráter, dignidade, respeito e amor pelo sacerdócio.
Dr. Marçal gostava de ressaltar uma máxima proferida pelo eminente professor Onofre Mendes Júnior, que afirma que "o Direito é a obra mais portentosa da criação humana". Essa geração de memoráveis mestres formou grandes juristas da cultura mineira e nacional, como Sepúlveda Pertence, Ariosvaldo Campos Pires, Humberto Theodoro Jr., Aristóteles Atheniense, Patrus Ananias e muitos outros.
A ditadura militar imposta pelo golpe de 1964 infelizmente interrompeu este fluxo de riqueza do nosso pensamento cívico e jurídico, desmoralizando as instituições judiciárias e acadêmicas do país, que se mediocrizaram e se rebaixaram a níveis degradantes, sucumbindo a uma plêiade de oportunistas inaptos que tomaram conta da organização política nacional.
A democracia finalmente ressurgiu na década de 1980 e a Constituição de 1988 deu início a uma nova era de moralidade jurídica no Brasil. Contudo muito recentemente testemunhamos um recrudescimento institucional brutal, com o retorno obscurantista de uma ideologia medieval destrutiva, que pretendeu fuzilar as conquistas sociais e democráticas historicamente conquistadas com muita luta e muito sangue ao longo de tantos anos.
Fomentado por uma quadrilha de delinquentes mafiosos, travestidos de juízes e promotores federais, este grupo político nefasto forjou o impeachment de Dilma Rousseff, fraudou a campanha eleitoral para presidente em 2018 e se assenhorou da máquina estatal para destruí-la, além, é claro, para descaradamente roubar o patrimônio público, usurpando das cores nacionais ao bradar um falso patriotismo enganador e criminoso. 
Mas essa corrente macabra, capitaneada por militares indignos, pseudorreligiosos e capitalistas sem escrúpulos, foi derrotada nas eleições de 2022. Temos à frente um novo país para construir e muitos exemplos históricos de dignidade moral e honestidade intelectual para seguir.

Homenagem da Faculdade de Direito UNA 2023