AO MAR, SAL

Eita, que quando damos a largada para a carreira da vida
Somos passarinhos em caminhos de carneiros
Inocentes, temos que ser silentes
Mercê do contencioso tanger da existência...

O peito oprime as instâncias do coração
Que quer voar, quer cantar, quer viver
Mas, a lei dos homens, condicional e cogente
Quer mandar, quer tanger
Quer que o homem-passarinho
Converta em lã suas penas
Para que expie, protegido
O pecado de haver prostituído a liberdade.

Se o homem pudesse voar e errar seus horizontes
Como erra o vento
Se pudesse sublimar a dor, para morrer encantado
Como quem ouve e busca o canto das sereias
Se pudesse adoçar os mares
Para que o encontro de seus humores
Não despertasse a ira do "El Niño!"

Se...

Mas o homem tem a fatalidade do chão
E a condicionalidade da lei.

Tem, em detrimento do presente
Compromisso firmado com as inconsistências
Futuras e passadas
E tem a fatalidade de ser "objeto"
E não "causa" da Natureza.

Sendo assim
À sua liberdade, os rigores da razão
Ao seu medo, o ônus da solidão
E ao mar, sal
Porque este, não sendo, contudo, doce
Tem sempre a vocação
De querer o barco da vida à deriva em suas vagas.

*PERÁCIO (Ao Marçal, passarinho arreliado com a gaiola da existência).